25.1.10

Povo fermento do mundo

O povo é o fermento do mundo, ou melhor, o povo é o fermento da economia do mundo. Dirão os mais quiméricos: “O povo é que faz a economia crescer”. Mas o povo não é um fermento como o do pão, que cresce, é sim o fermento dos processos industriais.

Talvez pela aceleração do processo de industrialização, o sistema tenha transformado o povo em insumo – voltando ao fermento, o povo fermenta a economia, e quando já não é mais útil é reprocessado e usado sucessivamente até envelhecer e cair no desuso.

Apesar das promessas românticas do capitalismo de uma mobilidade social, podemos notar claramente que ainda vivemos uma sociedade de castas hereditárias, e que o fermento sempre será o mesmo fermento: o povo.

Os capitalistas menosprezavam os socialistas pelo fato de terem idéias utópicas, mas temos que reconhecer que o sistema que vivemos hoje na maior parte do mundo também deixa muito a desejar. Não importa a nomenclatura, o que importa é essa porra funcionar!

Independente de ideologias, o povo não pode estar expostos a tantos danos, desigualdades sociais se alargando de forma logarítmica, e o povo continua fermentando. Fermentando tudo o que a mídia lhes joga em pacotes de todos os tamanhos. Informações manipuladas e parciais ao interesse do senhor Charles Foster Kane.

Do capitalismo romântico pregado pelos entusiastas do modelo de “competição pelo poder” o povo fica como Werther de Goethe, e terá o mesmo fim, só que sendo descartado como fermento.

Viveríamos em um mundo quase ideal se os culpados pelas desigualdades fossem o sistema político-econômico que adotamos. No entanto temos que ir mais fundo para achar as raízes destes problemas. Um povo alienado é facilmente manipulado. Ainda investigando a natureza egoísta do ser humano, podemos ligar este gene com o gene da liderança. Pois todo líder que desponta quando no poder entrega-se ao egocentrismo e esquece a massa que outrora integrou.

Outra hipótese igualmente possível é que esse egocentrismo seja uma característica inerente ao homo sapiens. É neste contexto que a humanidade se torna detestável, tão ingênua quanto suas próprias origens. Entre os pensamentos dos românticos capitalistas e dos insanos realista fies a Schopenhauer acerca da humanidade, eu fico com os insanos.

Sie haben nicht genug Brot? Dann sollen sie doch Kuchen essen!”. “Eles (o povo) não tem nenhum pão? Que comam bolo!”. Esta anedota atribuída à francesa Marie Antoinette, é uma frase típica da sociedade alienada que tenta remediar um problema antes de conhecê-lo. Muitas (ou todas as vezes) quem chega ao poder não viveu na pele o que é ser povo. E os que viveram fazem questão de esquecer.

Ainda inspirado por Arthur Schopenhauer, tenho a ousadia de dizer que a humanidade não tem cura. Para que semear falsas ilusões e promessas de mudanças, se no fim de tudo o que está errado somos nós.

Enfim, isto tudo é um ciclo, o povo continuará sendo fermento, a diminuta mobilidade social é cancelada pela lavagem cerebral dos camponeses que tornam-se nobres. Independente de quantos reis presidentes e ditadores colecionarmos em nossa história, enquanto formos humanos continuaremos sendo insensíveis.